sexta-feira, 22 de abril de 2011

Anton Tchékhov

Eu acho que não são os escritores que devem resolver questões como Deus, o pessimismo, etc. O que cabe ao escritor é apenas representar quem, quando, em que circunstâncias falou ou pensou sobre Deus ou sobre o pessimismo. O artista não deve ser juiz de suas personagens e daquilo que dizem, mas tão-somente testemunha imparcial.  Houve dois russos falarem sobre o pessimismo, numa conversa sem nexo e que não chegava a nada. Devo transmitir essa conversa exatamente como a ouvi; a julgá-la serão os jurados, ou seja, os leitores. Meu papel é apenas o de ter talento, ou seja, de saber diferenciar os testemunhos importantes dos inúteis, de saber iluminar as personagens e falar a língua dela.
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Já está na hora de as pessoas que escrevem, e principalmente os artistas, compenetrarem-se de que neste mundo não se compreende nada, como outrora reconheceu Sócrates e como Voltaire reconhecia. A turba acha que compreende tudo e que sabe tudo; e quanto mais estúpida ela é, mais amplo lhe parece o seu horizonte. Se um artista, em que a multidão acredita, tomar a decisão de declarar que ele não compreende nada do que vê, só isso já constituirá um grande saber no domínio do pensamento e um grande passo a frente.
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O artista observa, escolhe, advinha, compõe - só essas operações já pressupõe, em sua origem, um problema; se o problema não foi colocado desde o início, não há o que adivinhar nem o que escolher.
Ao exigir de um artista uma atitude consciente para com o seu trabalho, você está certo, mas está misturando dois conceitos: a solução do problema e a colocação correta do problema. Só o segundo é obrigação do artista. Em Ana Karenina e no Oniéguin não há resolução de nenhum problema, mas estas obras são plenamente gratificantes, simplesmente porque, em ambas, os problemas foram colocados corretamente. Ao juiz cabe colocar corretamente a questão, os jurados que decidam, cada um ao seu modo.

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