sábado, 18 de setembro de 2010

Gustave Flaubert


Trabalhe, medite, medite acima de tudo, condense seu pensamento, você sabe que os belos fragmentos não são nada. A unidade, a unidade, tudo está aí! O conjunto, eis o que falta a todos os de hoje, tanto nos grandes quanto nos pequenos. Mil passagens bonitas, mas não uma obra. Cerra teu estilo, faz um tecido mais leve que a seda e forte como uma cota de malha. Perdão por estes conselhos, mas eu queria lhe dar tudo que eu desejo pra mim.
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É perder tempo ler críticas. eu faço questão de sustentar uma tese de que não há uma só que seja boa, que isso não serve pra nada a não ser imbecilizar os autores e para embrutecer o público, e, enfim, que se faz crítica quando não se pode fazer arte, assim como quem não pode ser soldado torna-se informante.
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Trabalha cada dia pacientemente um mesmo número de horas. Toma o rumo de uma vida estudiosa e calma; aí você irá saborear primeiro um grande encanto e daí retirará força. Eu tenho também  mania de passar as noites em claro, isto só faz cansar. É preciso desconfiar do que se parece com inspiração e que frequentemente não passa de uma inclinação e de uma exaltação fictícia que nós nos demos voluntariamente e que não surgiu por si própria. Aliás ninguém vive na inspiração.
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Mas é preciso não forçar o passo, como se diz em equitação. É preciso ler, meditar muito, sempre pensar no estilo e escrever o menos que se puder, unicamente para acalmar a irritação da Idéia que exige tomar uma forma e que se resolve em nós até que lhe tenhamos achado uma que seja exata, precisa, adequada a ela. Observa que se chaga a fazer belas coisas à força de paciência e de uma longa energia.
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Modera os arrebatamentos de seu espírito que já lhe fizeram sofrer tanto. A febre esvazia o espírito; a cólera não é força, é um colosso, cujos joelhos vacilam e que fere mais a si próprio do que aos outros.

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